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Enquanto eu ia andando atrás deles, de repente me ocorreu, assim como uma espécie de surpresa, que eu estava bêbado, realmente bêbado, entusiasmado, sorridente e cambaleando de bêbado, pela primeira vez desde o Exército, bêbado junto com meia dúzia de outros caras e duas garotas – bem dentro da ala da Chefona! Bêbado e correndo e rindo e andando com mulheres exatamente no centro da mais poderosa fortaleza da Liga! Pensei no que tínhamos estado fazendo desde o princípio da noite e era quase impossível acreditar. Eu tinha de ficar lembrando a mim mesmo que realmente havia acontecido, que nós tínhamos feito com que acontecesse. Tínhamos simplesmente destrancado uma janela e permitido que aquilo entrasse, como se deixa entrar o ar fresco. Talvez a Liga não fosse toda-poderosa. Que é que nos impedia de fazer aquilo de novo, agora que estávamos vendo que podíamos? Ou que nos impedisse de fazer outras coisas que quiséssemos? Senti-me tão feliz, pensando nisso, que dei um grito e saltei sobre McMurphy e a garota que caminhavam juntos na minha frente, levantei os dois, um em cada braço, e corri por todo o caminho até a enfermaria com eles gritando e esperneando como crianças. Sentia-me bem a esse ponto.

O Coronel Matterson se levantou novamente, com os olhos brilhantes, cheio de lições, e Scanlon o empurrou de volta para a cama. Sefelt, Martini e Fredrickson disseram que era melhor irem dormir também. McMurphy, eu, Harding, a garota e o Sr. Turkle ficamos para acabar com o xarope e decidir o que iríamos fazer quanto à bagunça em que estava a ala. Harding e eu agíamos como se fôssemos os únicos realmente muito preocupados com aquilo; McMurphy e a garota apenas sentaram ali bebericando o xarope e sorrindo um para o outro e alisando-se com as mãos nas sombras; o Sr. Turkle volta e meia adormecia. Harding fez o melhor que pôde tentando fazer com que eles se preocupassem.

– Vocês todos parecem não compreender a complexidade da situação – disse ele.

– Besteira – disse McMurphy.

Harding bateu na mesa. – McMurphy, Turkle, vocês não se dão conta do que aconteceu aqui esta noite. Numa enfermaria de doentes mentais. A ala da Srta. Ratched! As repercussões serão… devastadoras!

McMurphy mordeu o lóbulo da orelha da garota. Turkle concordou com a cabeça, abriu um olho e disse:

– É verdade. Ela vai estar aqui amanhã também.

– Entretanto, eu tenho um plano – disse Harding, levantando-se. Disse que McMurphy obviamente estava bêbado demais para dominar a situação, e que uma outra pessoa teria de assumir o comando. Enquanto falava, ficou mais ereto e também mais sóbrio. Falou numa voz intensa e com uma nota de urgência, e suas mãos davam forma ao que ele dizia. Fiquei satisfeito que ele tivesse assumido o comando.

Seu plano era que devíamos amarrar Turkle e fazer com que parecesse que McMurphy o havia apanhado de surpresa por trás, que o amarrara com, ah, digamos pedaços de um lençol rasgado, e depois de conseguir as chaves, havia entrado no depósito de remédios, espalhando os remédios por todo lado e feito aquela confusão com os arquivos só para aporrinhar a enfermeira – ela acreditaria nessa parte – e então havia destrancado a grade e fugido.

McMurphy disse que parecia enredo de novela de televisão e que era tão ridículo que não podia deixar de funcionar, e cumprimentou Harding pela sua lucidez. Harding disse que o plano tinha seus méritos; manteria os outros fora da confusão com a enfermeira, Turkle continuaria no seu emprego e McMurphy fugiria da ala. Disse que McMurphy podia pedir às garotas que o levassem de carro para o Canadá ou Tijuana, ou até Nevada, se quisesse, e ficaria em perfeita segurança; a polícia nunca se esforçava muito para apanhar os fugitivos do hospital, porque 90% deles sempre apareciam de volta poucos dias depois, sem dinheiro, bêbados e procurando aquela cama e mesa gratuitos. Conversamos sobre aquilo durante algum tempo e acabamos com o xarope. Finalmente falamos até esgotar o assunto e depois ficamos em silêncio. Harding tornou a sentar-se.

McMurphy tirou o braço dos ombros da garota e olhou de mim para Harding, pensando, novamente com aquela expressão estranha, cansada, em seu rosto. E nós, perguntou, por que não nos levantávamos apanhávamos as roupas e íamos com ele?

– Não estou pronto ainda, Mack, – disse-lhe Harding.

– Então por que acha que eu estou?

Harding olhou para ele em silêncio por algum tempo, sorriu, depois disse:

– Não, você não compreende. Estarei pronto dentro de algumas semanas. Mas quero fazê-lo sozinho, por mim mesmo, sair por aquela porta da frente, com todas as formalidades e complicações tradicionais. Quero que a minha mulher esteja aqui com um carro numa hora determinada para me buscar. Quero que eles saibam que fui capas de fazê-lo dessa maneira.

McMurphy assentiu.

– E você, chefe?

– Acho que estou bem. Só que não sei ainda para onde quero ir. E alguém precisa ficar aqui algumas semanas depois que você tiver ido, para garantir que as coisas não voltem para trás.

– E Billy, Sefelt, Fredrickson e os outros?

– Não posso falar por eles – disse Harding. – Ainda têm seus problemas, como todos nós. Ainda são homens doentes, de muitas maneiras. Mas pelo menos agora eles são homens doentes. Não são mais coelhos, Mack. Talvez, algum dia possam ser homens sãos. Não sei dizer.

McMurphy refletiu sobre aquilo, olhando para as costas das mãos. Tornou a olhar para Harding.

– O que é isso, Harding? O que acontece?

– Você quer dizer, tudo isto? McMurphy concordou. Harding sacudiu a cabeça.

– Não creio que eu possa dar-lhe uma resposta. Oh, eu lhe poderia dar razões freudianas em termos empolados e isso seria o máximo que poderia fazer. Mas o que você quer são as razões para as razões, e essas não sou capaz de lhe dar. Não as dos outros, pelo menos. As minhas? Culpa. Vergonha. Medo. Auto-subestimação. Muito cedo, descobri que eu era… vamos ser gentis e dizer diferente? É uma palavra melhor, mais genérica que a outra. Eu cedi à prática de certos atos que a nossa sociedade considera vergonhosos. E fiquei doente. Não foram os atos, não creio que tenham sido, foi o sentir aquele dedo indicador enorme, letal, da sociedade apontando para mim… e aquele enorme coro de milhões de vozes repetindo, "Vergonha. Vergonha. Vergonha." É essa a maneira de a sociedade lidar com alguém diferente.

– Eu sou diferente – disse McMurphy. – Por que nada disso aconteceu comigo? Tive gente me chateando, andando atrás de mim, desde que me entendo, mas… mas isso não me fez enlouquecer.

– Não, você tem razão. Não foi isso que o fez enlouquecer. Eu não estava dizendo que a minha razão é a única. Pensei durante certa época, há alguns anos, quando eu era garoto, que a punição da sociedade era a única força que levava alguém para o caminho da loucura, mas você fez com que eu reexaminasse a minha teoria. Há uma outra coisa que leva gente, gente forte como você, amigo, para esse caminho.

– Sim? Não que eu esteja admitindo que estou nesse caminho, mas o que é essa outra coisa?

– Somos nós. – Ele moveu a mão em volta de si num suave círculo branco e repetiu: – Nós.

McMurphy disse sem convicção:

– Besteira – sorriu e se levantou, pondo a garota de pé. Olhou para o relógio. – São quase cinco horas. Preciso tirar um cochilozinho antes da grande fuga. O turno do dia ainda leva mais duas horas para entrar; vamos deixar o Billy e a Candy por lá mais um pouco. Vou dar o fora por volta das seis. Sandy, querida, talvez uma hora no dormitório nos deixe mais sóbrios. Que é que acha? Temos um bocado de estrada pela frente, seja para o Canadá ou México ou qualquer outro lugar.

Turkle, Harding e eu também nos levantamos. Todo mundo ainda estava bastante tonto, muito bêbados ainda, mas um sentimento brando de tristeza havia penetrado na embriaguez. Turkle disse que tiraria McMurphy e a garota da cama dentro de uma hora.

– Me acorda também – disse Harding. – Quero ficar ali na janela com uma bala de prata na mão e perguntar: "Quem era aquele homem de máscara?" enquanto vocês vão…

– Vá pro inferno, pare com isso. Vocês dois aí, já para a cama, e não quero nunca mais ver nem pele nem cabelo de nenhum de vocês. Entenderam?

Harding sorriu e concordou com a cabeça, mas nada disse. McMurphy estendeu a mão, Harding apertou. McMurphy virou a cabeça para trás como um vaqueiro saindo de um bar e piscou o olho.

– Você pode ser o grande ganso machão dos doidos de novo, companheiro, com o grande Mack fora do seu caminho.

Ele se virou para mim e franziu o cenho.

– Não sei o que você pode ser, chefe. Você ainda tem que olhar por aí. Talvez conseguisse arranjar um emprego como bandido num bangue-bangue de TV.

– De qualquer maneira, vá com calma.

Apertei a mão dele, e fomos para o dormitório. McMurphy disse a Turkle para rasgar alguns lençóis e escolher alguns de seus nós favoritos para ser amarrado. Turkle disse que ia providenciar. Deitei na minha cama, sob a luz acinzentada do dormitório, e ouvi McMurphy e a garota se deitarem na dele. Estava sentindo-me meio mole e bem quentinho. Ouvi o Sr. Turkle abrir a porta da rouparia lá fora no corredor, suspirar bem alto e arrotar enquanto fechava a porta atrás de si. Meus olhos se acostumaram com a escuridão, e pude ver McMurphy e a garota aconchegados nos braços um do outro, se descontraindo, mais como duas crianças cansadas do que como um homem feito e uma mulher feita, juntos na cama para fazer amor.

E foi assim que os ajudantes os encontraram quando entraram para acender as luzes do dormitório, às seis e meia.

Pensei muito a respeito do que aconteceu depois, e acabei por chegar à conclusão de que estava destinado a acontecer e teria acontecido de uma forma ou de outra, dessa ou de uma outra vez, mesmo que o Sr. Turkle tivesse acordado McMurphy e as duas garotas e os tivesse posto para fora da ala como fora planejado. A Chefona teria descoberto de alguma forma o que havia acontecido, talvez só pela expressão no rosto de Billy, e teria feito a mesma coisa que fez, quer McMurphy ainda estivesse ali ou não. E Billy teria feito o que fez e McMurphy teria sabido e teria voltado.

Teria voltado, porque não poderia mais ficar sentado sem fazer nada, fora do hospital, jogando pôquer em Carson City ou em Reno ou em algum outro lugar, e deixar a Chefona dar a última cartada e ter a última jogada, como não poderia tê-la deixado fazer aquilo mesmo debaixo do seu nariz. Foi como se ele tivesse se inscrito para o jogo inteiro e não houvesse nenhum jeito de quebrar o contrato.

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